terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Juan Luis Segundo, o teologo dos pobres e do reino

O HOMEM DE HOJE DIANTE DE JESUS DE NAZARÉ II/I
Sinóticos e Paulo história e atualidades

CAP 3 – A proximidade do Reino

Pretendendo apagar de antemão um mal entendido hermenêutico entre ou “político ou religioso”, ao analisar as ideologias do Jesus histórico enquanto a sua trajetória percorrida na terra, Juan Luis Segundo, aborda neste capitulo questionamentos interessantes: “Como foi que um homem comum, sem autoridade religiosa alguma começou a interessar a seus contemporâneos”? E isso sem pregar a si mesmo e “como passou através da poderosa e complexa estrutura religiosa?”. Jesus com o seu discurso, afeta concretamente a vida do homem, fazendo com que houvesse um fim político e não aparentemente a fundação de uma religião. As palavras de Jesus de Nazaré tinham profundas sugestões políticas e não duvidosas, sendo que ele anunciou mensagem religiosa em forma de chave política e dessa forma manifestou a Deus. Quanto mais políticas de mudanças se revelava, toda afinidade com acondicionamento morais, espirituais ou religiosas fossem desprendidas dos grupos humanos tornavam-nos mais religiosos. É com estas duas hipóteses que o autor trabalha ao interpretar a mensagem global de Jesus de Nazaré.

Juan Luis Segundo questiona então sobre o que consiste este “Reino de Deus”, por que e para quem estabelecer uma boa notícia e por que esse “evangelho” (boas novas) exigia mudar de mentalidade? Utiliza então os textos sinóticos a Paulo apresentando uma interpretação sobre “bem-aventuranças”, tomando como base uma exegese da obra clássica de J. Dupont. Primeiro provavelmente o texto mais coerente vem narrado na 3ª pessoa “felizes os que...”, (como em Mateus) provavelmente a quarta bem-aventurança de Q (razão das versões divergentes de Mateus e Lucas), onde contêm uma predição de perseguição futura, sendo que isso não implicava aos discípulos sobre as dificuldades que haveriam de acontecer, mas Jesus declara a situação das bem-aventuranças para transformar em virtudes e a definir o que consiste esse “Reino de Deus” que chega com a articulação que para os pobres, Ele veio para mudar esta situação e por um fim, já que não há humanização nenhuma na pobreza e sim uma relação intrínseca e positiva entre reino e situação do pobre.

Juan Luis também apresenta controvérsias nos textos sinóticos, por um lado sabendo que os textos de Lucas foram escritos para os leitores helenistas diferenciados dos outros sinóticos, por assim saber que na igreja primitiva de Lucas, no livro de Atos, a partilha dos bens que nela se praticava não poderia haver necessitados, versão que contrapõe da existência humana: pobreza e riqueza e por outro, sendo ainda que a fonte Q, apesar de ser mais próxima de Jesus do que o atual evangelho, não é garantia de que Jesus tenha pronunciado as bem-aventuranças, além do termo “pobre” ser mais pronunciado pelos cristãos do que por Jesus. Então a quem cabe o direito a este Reino, Já que até os próprios discípulos continuavam explorarados pelas ideologias religiosas e por fazer eles partes deste grupo de “pobres”? Vale ressaltar que neste tempo o “Povo da Terra” (os judeus) tinham uma sociedade hierárquica não segundo a sua fortuna ou poder político, mas segundo critérios religiosos.

Como Jesus não podia pronunciar-se a todos ao mesmo tempo, escolhe então anunciar o Reino a quem perdeu tudo, são eles os publicanos, prostitutas, doentes e aleijados, os chamados “pobres” da época, os amaldiçoados e desprezados, ou seja, os pecadores, não que haja uma unificação de pobre e pecadores, mas, os pobres são pecadores, por ser marginalizados na sociedade de Israel, a estes Ele vem trazendo para uma realidade os projetos de Deus através da Sua revelação, com isso acontece uma mudança político-social-religiosa simultaneamente com a estratégia política do Reino correspondendo a uma nova notícia de Deus no caráter religioso contra a exploração do seu povo.








CAP 4 – As Exigência do Reino
I – Conversão e Hermenêutica

Com a imanência do “Reino de Deus”, se estabelece 03 (três) grupos: os “pobres”, ou seja, os destinatários a receber as boas-novas (os convidados naturais); os que ficam na sua companhia para enviar e pregar as boas novas (os discípulos), com isso à estratégia libertadora, política e conflitiva de Jesus cria-se um terceiro grupo, os que não se levam à compaixão, os opositores, aqueles aprisionados ao mecanismo ativo da opressão e que devem receber o reino com “ai” (os ricos, os justos e representantes religiosos). Para encontrar o significado da mudança de mentalidade ou “conversão”, que de acordo com Juan Luis segundo está representada nas polêmicas (parábolas) de Jesus (Joachim Jeremias reconhece 38), existe a necessidade lógica para compreensão das exigências em possuir este reino. A interpretação é que a boa noticia da chegada do reino não é o evangelho para todos e sim para o grupo dos pobres e mostra ao mesmo tempo, com todas as dúvidas que isso traz consigo a preferência que tem por eles, por um lado, e as profundas correções que deseja introduzir, por outro, na maneira que eles têm de idealizar a Deus e a religião.

Na definição de Juan Luis, Jesus utiliza-se de parábolas para legitimar seus ataques e a defesa dos que se opõe ao reino. O primeiro grupo de parábolas inicia-se com prevenção da chegada repentina do definitivo e destrói caluniosas garantias designada por uma elite social, econômica e política que exerce forte controle sobre o conjunto da sociedade, com isso sentem-se protegidos e confiantes de que este reino não os abalará, porém Jesus os desilude, de acordo com a interpretação sócio-econômica dos textos sinóticos de Lucas como as parábolas do rico insensato e do administrador infiel e outra conflitiva político-religiosa do ladrão noturno em Mateus. O segundo grupo coloca as bem-aventuranças entre uma oposição com o primeiro, ou seja, por se acreditar garantido pelo reino e coeso pelos que se tinham excluídos da pobreza, os marginalizados de Israel (pecadores), Jesus não os idealiza se são bons ou maus, mas suas parábolas os generalizam. As citações de várias parábolas para como: a do banquete, onde “todos” são convidados a sentar-se na mesa; a do filho pródigo, na qual o pai estava a aguardar a volta do filho que estava perdido e a da ovelha, que o pastor vai ao seu encontro, escrito nos sinóticos, desperta uma intensão de conflitos entre esses grupos e estabelece que para quem o reino e faz presente, para os que sofrem e estão perdidos. Juan Luis Segundo tem como base nos textos de Lc 15:7 e Mat 18:13 “a alegria no céu será maior por um pecador que se converta do que por noventa e nove justos que não necessitam de conversão”, ou seja, o estado perdido é a causa suficiente para a alegria paterna. Jesus é radical, mas restringi-se a mostrar dois grupos opostos e não detecta ainda o mecanismo como um grupo oprime o outro.

O terceiro grupo de parábolas é qualificado por inverso do juízo de valores dos dois campos que divide Israel: justos e pecadores e é ilustrada aqui através das parábolas de Mateus (21:28-32) sobre os dois filhos, onde o primeiro representa os pecadores, que mesmo rejeitando a ordem do pai as cumpre o e segundo filho representando os justos que mesmo dando vontade de obedecer descumpre a ordem paterna. O que se vê é um paradoxo de quem na verdade é justo ou pecador. Outra polêmica está no anúncio de Lucas 4:19 numa simetria do “ano da graça do senhor” com as “bem-aventuranças” onde relata a divisão por igual dos bens e da liberdade a cada cinqüenta anos entre todos os israelitas, recobrindo assim suas possibilidades humanas, porém a isso legitima a opressão penetrando inclusive nas mentes dos oprimidos, isso faz com que o resultado da divisão do trabalho seja atribuída a opressores e oprimidos como virtude de Deus, mas o Deus de Jesus não sente assim as coisas. Com efeito, aparece o critério com que Deus julga o que é pecado: não o contrario à lei, mas o contrario ao homem (pág. 197). É a preocupação e compaixão pelo homem, e em especial pelo que sofre que Jesus estabelece a justiça, a misericórdia e a fidelidade.

Para isso Jesus indica um aparato para destruição ideológica do opressor representado no quarto grupo de parábolas que versa sobre a chave hermenêutica, onde consiste para Jesus entender o homem e pôr a sua plena humanização para que agora o homem possa compreender que a conversão (necessidade da mudança de mentalidade) fundamental para aqueles que receberam as boas notícias não passa de privilégio e sim responsabilidade, “deixa de se crer fim para se sentir meio”. Juan Luis segundo descreve que para combater uma interpretação radicalmente errônea é preciso se endereça as três primeiras parábolas, a dos talentos, em Q (Mt 25:14-30; Lc 19:12-27), a do sal (Mc 9:50; Mt 5:13; Lc 14:34-35) e a figueira de Lucas (Lc 13:6-9). As três têm um elemento comum: a importância não está nunca nas coisas em si, no que pode ser objeto de posse, e sim numa funcionalidade, num fruto que dela se espera e para isso a parábola de Jesus no contexto de Lucas sobre o samaritano, o levita e o sacerdote referente àquele que caiu em poder dos ladrões é muito bem apresentada como o mais importante do que aquele que a quem se deve amar é aquele em que ama de verdade. A proximidade (sentido da frase do original “amar o próximo”) não é conseqüência da lei e sim premissa, consiste em uma inclusão mútua entre pessoas ou grupos. Jesus então estabelece uma radical mudança de mentalidade no sistemático ideológico religioso opressor introduzindo não só que as tradições legalistas substituíram os fidedignos mandamentos de Deus, mas que até estes não estabelecem a vontade de Deus geradora de valores morais. Deus não alcança ao homem com receitas morais pré-estabelecidas, ou seja, só quem tem intenções baseados no amor entende corretamente o sentido benéfico dos mandamentos a fim de converter suas vítimas em sujeitos conscientes e ativos na luta.


CAP 5 – As Exigência do Reino
II – Profetismo e Conscientização

A multiplicidade e a maneira indefinida do que se esconde sob o título da construção do “Reino de Deus”, faz com que exista uma contradição entre duas leis. Os pobres e pecadores são convidados por Jesus a fazerem parte do seu discipulado, já que o reino lhes pertence, em contra partida, oferece-lhe um julgo mais leve, ou seja, estarão sob a lei de Jesus que analogicamente confronta com “o que diz na lei” dos escribas e fariseus, fazendo uma exigência muito mais pesada: “eu, porém vos digo”, por este motivo os três sinóticos oferecerem depoimentos evidentes de um conflito político-religioso que opõe Jesus e os pecadores das autoridades judaicas.

Fazendo uma exegese dos textos de Marcos, Juan Luis abre hipóteses de trabalho ao se referir aos grupos já citados anteriormente. Primeiramente discursa sobre os chamados oprimidos e pecadores (povo) e deles nada é exigido diferente do grupo dos opressores. Conseguinte o outro grupo dos oprimidos e pecadores, agora colaboradores (os discípulos), Ele exigirá o que a missão sugere qualidades proféticas com toda prudência e compreensão. Porém o medo de Jesus é que seus discípulos não entendam as idéias de oposição Dele ou entendam apenas como religiosas, por este motivo Jesus oferece aos discípulos a parábola do semeador e do fermento (dado somente aos discípulos), encontrados nos sinóticos em chave política, já que esse era o meio utilizado por Jesus para o grupo de opositores do reino para que não se convertessem e fossem perdoados, sendo que os discípulos não necessitavam de conversão e sim abrir aos olhos para compreender o segredo do reino. Neste ponto é indispensável ressaltar que Jesus não estava dando aula de religião e sim desmascarando um conflito que se aparentava ser religioso pelos seus opositores, que visavam dominar e explorar outros homens, citado por Juan Luis Segundo da obra de Joachim Jeremias (Lês Paraboles”, pág. 16).

Jesus prepara a chegada do reino utilizando dois elementos na atividade em respeito aos pobres: com prodígio e métodos em instruir e praticar com clareza sua missão. Usou de poderes de modo muito especial para com os pobres e necessitados para anunciar de modo fidedigno a presença do reino de Deus, mas não sua vinda propriamente dita do reino e sim seu anúncio em forma de sinais, sinais estes que tem uma coerência entre valores do reino que chega e os valores que visivelmente procuram os interlocutores, prováveis adversários de Jesus com os milagres que eles solicitam, para que assim apareça na qualidade significativa o elemento decisivo na relação existente entre Jesus dos milagres e os pobres que é o segredo messiânico, ou seja, está mais relacionado com o trabalho de conscientização através dos milagres do que uma dúvida na consciência que Jesus tem de si mesma. Os sinais do reino são benefícios reais, incontestáveis enquanto tais para o que recebem. O segundo elemento é apresentado de forma a instruir as suas parábolas e Jesus mediante ao método messiânico pretende manter distância para poder ensinar e mostrar que ele é o sinal de alegria para as multidões de Israel








CAP 6 – A VINDA DO REINO

Neste capítulo Juan Luis Segundo determina com certa prudência dados mais fidedignos de que se dispõem os sinóticos e questiona, será que Jesus não se enganou ao anunciar que o reino de Deus já se tinha iniciado em sua geração? Ou pelo menos é essa a impressão, pois as desgraças continuaram com os “felizes os que...”, enquanto existiam mais famintos e os ricos continuaram a triunfar e multiplicar mais esfomeados até hoje, a menos que se trate de uma prosperidade e fartura ultramundanas. Juan Luis descreve que no livro de Mateus há citações de Jesus usando três expressões diferentes para reino, são eles: “o reino”, “o reino de Deus” ou “o reino dos céus”. O certo é que ao estar nesta época de busca pelo Jesus histórico deve-se fazer em excesso de perspectiva, pois nem mesmo a Igreja Primitiva não pode ao que parece fazê-lo de maneira distinta, embora com mesmo sentido.

E tomando esse rumo principia-se pela aparição de dois personagens, João Batista e Jesus, todavia o primeiro evangelho apresenta discordância entre ambos os profetas no sentido ideológicos do que significa concretamente essa proximidade. É o que se vê no contexto de Mateus e Lucas referente ao estilo de vida, onde um não bebe e não come, enquanto o outro, é beberrão e comilão; João prega a iminente manifestação visível da ira de Deus e é quem melhor representa a as idéias apocalípticas da época, combinando “reino de Deus”, juízo e catástrofe cósmica. O Jesus aparenta sintomas de individualidade na sua pregação de acordo com Mateus 5:2, assim sendo é que a proclamação de Jesus caracteriza-se como de uma alegria, a boa-notícia, relacionando o dia de Javé com a vinda do seu reino. Juan Luis Segundo dispõe de textos no livro de Lucas (3:11, 3:13 e 3:14) que entre os sinóticos é o único com versão detalhada do batista referente aos “frutos dignos de uma mudança de mentalidade”, onde é visto com muito mais realismo. A multidão: ele sugere a divisão de túnicas e alimentos; Aos publicanos: não exigir mais do que a taxa marcada. A uns soldados: não praticar torturas nem chantagens, contentai com seu soldo. Apontando assim a situação grupal de cada um e a sua conversão central. Conclui-se que Jesus foi muito mais político do que escatológico e era essa a necessidade dos dois grupos de Jesus, a instalação do reino de Javé do que o juízo apocalíptico, embora nenhuma imagem da por afirmada a presença atual do reino em forma completa sobre a terra, principalmente se analisar o tempo do verbo das bem-aventuranças, com exceção da primeira, as outras usam o verbo no futuro, além da ausência do verbo “ser” dos originais aramaicos.

Os homens colaboram com essa vinda e isso é o menos que se pode dizer quanto à intervenção que se exige deles, pois suas necessidades são compreendias no quadro global, porém a pergunta que Juan Luis Segundo faz é: esperou Jesus a chegada, durante sua vida, do reino de Deus com poder? De acordo com Juan Luis, para os exegetas atuais a resposta é afirmativa. Então baseando-se em três elementos relaciona a seguir. O primeiro situado nos três sinóticos “Em verdades vos digo: alguns dos presentes não sofrerão a morte até que vejam chegar o reino de Deus” (Mc 9:1); O segundo constituído por um pequeno apocalipse, também dentro dos sinóticos, que aparece com uma pergunta desconcertada dos discípulos pelos sinais e a resposta é: “a vinda do Filho do homem sobre as nuvens com grande poder e majestade” (Mc 13:26), porém os evangelistas acrescentam um paradoxo enigmático que por um lado ninguém sabe, nem os anjos, nem o Filho do homem, mas somente o Pai, o dia e a hora. Por outro, o tempo está tão próximo que Jesus pode dizer que em verdade eu vos digo, não passará esta geração antes que tudo isso aconteça. O terceiro elemento aparece ainda que não seja comum aos três sinóticos (pelo fato de Lucas, no intuito de extinguir o que lhe pareça desrespeito, o exclui) como um grito de surpresa e desorientação com que Jesus morre na cruz: “meu Deu, meu Deus, porque me abandonastes?” (Mc 15:34 e Mat 27:46).

Então conclui Juan Luis que o reino não chegou “com poder” enquanto durava a geração que escutou Jesus profetizar, mas de acordo com Paulo na sua carta aos Romanos, Jesus foi “constituído Filho de Deus com poder, por sua ressurreição dentre os mortos” (Rm 1:4), sendo assim é transparente a admissão que jesus esperou em vão durante sua vida essa irrupção com poder do reino de Deus, mas comprova que sua comunidade foi compreendendo gradualmente que com sua ressurreição dentre os mortos ela se tinha realizado. Jesus teve um destino humano, concreto e histórico, trabalhou com mãos de homem na construção do reino que empregou para nos revelar o Pai através da iminência concreta trazendo a marca de uma história que não volta atrás.

(7) Anexos da primeira parte
1 - JESUS RESSUSCITADO

Ficando o tema mais concentrado no livro “Cristologia” o vol. II/II desta série, a ressurreição de Jesus constitui um fato verificável da história da Igreja nascente. Porém inserindo no contexto do Jesus histórico, toma-se como instrumento os próprios evangelistas, que partindo da idéia em confiar que os discípulos de Jesus são sinceros ao narrarem terem visto Jesus depois de sua morte. A questão histórica da aparição do Ressuscitado concentra-se de todo relato Paulino, além de João que se une aos sinóticos. Comprova-se que as parábolas atribuídas a Jesus parecem indicar mais um ensinamento e assim estabelecer um novo grau de compreensão alcançado pelos discípulos (Lc 24:45-46). Porém esses têm dificuldades em distinguir Jesus no ressuscitado, prova de que a nova forma material não permitiu econhece-lo.

De fato o gênero literário dos relatos evangélicos das aparições é muito implícito, mas confirmam a fé existente e ai passa de “crer” a “ver”, ou seja, essa fé diante do escândalo da cruz, Jesus aparece ressuscitado, mas somente para aqueles que creram antes da morte de Jesus. É como se ecoasse em novo plano a advertência de Jesus “...convertei-vos e crede na boa-notícia”, apesar de não haver uma só que seja testemunha imparcial. As narrações sobre as aparições de Jesus não são históricas, mas isso não quer dizer que não sejam verdadeiras. Sua verdade é mais que histórica e depende, por isso da fé, é uma verdade sobre a história, pertence ao plano escatológico no qual se julga e verifica o sentido da história vivida.

Por isso diz-se que a realidade escatológica toca no ponto da existência histórica dos discípulos, aos lhes proporcionar experiências do resultado de opiniões diferentes que significavam, contra a morte e o nada, os valores pregados e praticados por Jesus. Tangencialmente não estabelece referência alguma a uma diminuição de importância significativa, refere-se, isso sim, ao sutil e oculto de sua entrada histórica.



(8) Anexos da primeira parte
2 - ALGO MAIS SOBRE A CHAVE

Chega o momento, também lógico, em que a chave política parece esgotar-se e apelar a outro tipo de interpretação para dar conta dos fatos. De acordo com os evangelhos, o conflito provocado por Jesus chegou a um ponto em que as forças pareciam tão equilibradas que, tanto um grupo quanto o outro, se temiam ou se previam a vitória do rival, por este motivo, de acordo com a tradução de Lucas (Lc 24:18-21), os discípulos esperavam a liberdade de Israel, se referindo ao poder que Jesus revelava, e isso era demonstrado por Jesus, porém, em favor da compaixão que ele tinha pela multidão para alimentá-los e não para dar estrutura mais estável. Juan Luis diz que apesar das incontestáveis urgências que se encontra em Jesus, sua ação interpretada em chave política, aponta muito mais para uma eficácia a longo prazo.

Dentro das suposições, é possível que Jesus pensasse ter muito tempo para continuar com sua política conscientizadora à longo prazo em favor dos pobres e do reino; é possível que contasse com uma poderosa intervenção do próprio reino para assegurar esse prazo. É ainda mais provável que fosse surpreendido pelo momento crítico que levou a morte e pelo silêncio de Deus. Não se sabe, mas isso não invalida a chave global do seu ministério, nos obrigando a substituir por outra. O certo é que os numerosos conflitos que Lucas nos relata a propósito da Igreja primitiva não se parece em nada ao conflito gerado, segundo o mesmo Lucas, por Jesus de Nazaré.

Diz-se "ainda" porque esta chave política, de acordo com Juan Luis Segundo, foi a chave de Jesus para dar sentido à sua ação: o Mestre da Galiléia entendeu a si mesmo como portador de uma mensagem transformadora da realidade, uma mensagem, portanto, política (a "boa nova aos pobres"). Paulo, ao perceber que esta modificação profunda não se produzia, viu-se obrigado a explicitar o conteúdo de sua fé cristã em termos de uma chave antropológica. A mudança que ocorre a partir da ressurreição de Jesus na história afeta em primeiro lugar o ser humano. Esta chave antropológica, pós-pascal, perfila-se a partir da tomada de consciência da escatologia paulina, que torna possíveis e necessárias estas duas afirmações: “o mundo muda” radicalmente para o homem graças a Cristo e o mundo não tem mudado em nada com Cristo. “O Reino já chegou com poder e o Reino não chegará jamais com poder na história”.

O Novo Testamento, incluindo os três sinóticos, mostra que o sentido de Jesus vai em busca de expressões criativas para cada contexto. Seguir Jesus não é sacralizar a ideologia que ele usou e forçar as circunstâncias infinitamente variáveis ao escutar as mesmas palavras e presenciar idênticos acontecimentos. Trata-se de “criar” evangelhos para expressar a fé de Jesus com as ideologias que melhor possam veiculá-las aqui e agora. O NT é o melhor exemplo de uma coleção de “chaves” diferentes em torno de uma mesmo personagem histórica: Jesus de Nazaré. Todas elas são chaves humanas, porque Deus não tem outra linguagem para falar ao homem.

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

ANÁLISE E DISCUSSÃO SOBRE A QUESTÃO DO PECADO - parte II

Observo que diligentemente as religiões cristãs evangélicas em sua história á causarem aberrações de caráter moral e repugnante, quando resolveram a tarefa de aplicarem a moral a partir da natureza humana. Por conseguinte, religiões tão pouco tem de planejarem isto, não devem servir do universo para deduzirem deveres, ela não devem conter códigos de leis.

A Teologia da Libertação que teoricamente deveria ensinar a Igreja a tomar partido pelos pobres e humilhados deste mundo, deveria está mais preocupada com a sociedade que esta corrompida não só na sua periferia, mas em toda a sua substância pela exploração desumana dos pobres pelos ricos, pela injustiça institucionalizada, o pecado social e o egoísmo.

As igrejas cristãs evangélicas contemporâneas admitem, de modo dissimulada, sua categorização como religião de comércio através do que os estudiosos ensejam chamando de “teologia da prosperidade”. Não se restringe a pregar a “salvação” somente com um sentido escatológico, o que era pecado antes hoje não é mais, havendo assim a necessidade de refazer uma nova leitura da questão do pecado.
Dentro da Teologia contemporânea a esperança é o alicerce fundamental e imprescindível para a prática de uma ética pela vida, neste caso posso fundamentar e refletir na teologia de Jürgen Moltmann, que enfatiza a realização da esperança escatológica através da justiça, da humanização do ser humano, da socialização da humanidade e da paz para toda a criação. Por causa da esperança, os seres humanos não capitulam diante do imutável e se mantém como seres insatisfeitos e inquietos num mundo injusto e não redimido. A fé é dependente da esperança, afirma, lembrando “o pai da igreja, Crisóstomo: Não é tanto o pecado que nos afunda na perdição, mas sim a desesperança”.
A contemporaneidade desvenda em sua tragédia que, a noção de pecado longe de ser uma noção ultrapassada ou, uma questão do sujeito consigo mesmo - auto-erotismo capital -, diz respeito a uma realidade que concerne primeiramente ao Outro. Falar de pecado é ser remetido imediatamente à existência do Outro. Apesar de não acreditar que as escrituras fossem à palavra de Deus inspirada e que ninguém poderia estar protegido de nada além que a sua experiência pessoal, Schleiermacher, seguramente mantinha que cada pessoa tem uma consciência de Deus que insufla um senso de dependência para com algo para além de si mesmo, e que uma vez que o homem é totalmente condicionado a Deus, o pecado procede sempre que a pessoa se debate por independência.

terça-feira, 29 de junho de 2010

ANÁLISE E DISCUSSÃO SOBRE A QUESTÃO DO PECADO - parte I

O medo é à base do dogma religioso, assim como de muitas outras coisas na vida humana. O medo dos seres humanos, individual ou coletivamente, domina muito da nossa vida social, mas é o medo da natureza que dá à origem a religião. Neste sentido, a religião, por ter no terror a sua origem, dignificou certos tipos de medo e fez com que as pessoas não julguem vergonhoso e para isso, utiliza-se do medo causado pelo pecado.

Para o cristão evangélico a questão moral subordina-se à questão da salvação. Tanto os sonhos como a linguagem da religião são formas simbólicas de nos referirmos às experiências vividas. O além é horizonte que os homens constroem para dar sentido e perspectiva às vidas concretamente vividas no seu mundo social. Rubem Alves diz que “O homem é o que ele produz”.

A justificação pela fé, ao contrário, subverte esse esquema. O homem não é um ser subordinado a uma lei. O homem é um ser perante Deus, e Deus é essencialmente graça e liberdade. Um dos exemplos que cito pode ser comentado sobre as narrativas de Moises quando se referiu a um grupo de anjos que, segundo a tradição hebraica e, mais apropriadamente, a tradição rabínica, os quais, tendo recebido permissão do Criador para descerem a terra, teriam feito uso de todas as faculdades mentais e motoras, típicas do ser humano, teriam inflamado no desejo sexual ao contemplarem a formosura das mulheres que habitavam na terra, fruto do crescimento demográfico da época, já que as enfermidades e a morte, causas diretas da entrada do pecado no mundo pela desobediência do primeiro casal só se tornaram evidencias fortes com o prolongar do tempo.
Esse desejo desenfreado pode ser ate mesmo explicado em função da não convivência anterior dessas criaturas com a humanidade, onde os laços sociais e religiosos ainda eram fortes e o respeito fazia parte do regime patriarcal, ainda que o pecado fosse uma realidade, sobretudo na vida dos descendentes de Caim que já experimentavam ha mais tempo, o privilegio de viver sobre a face da terra.

Analisando o texto bíblico, mas precisamente, vemos que o domínio de uma cultura patriarcal desenvolveu toda uma historia que contribuiu para uma estrutura hierárquica do gênero, fazendo com que rompesse a barreira de uma divisão política e geográfica sendo utilizada também na esfera ocidental. A relação das religiões com a crescente diferenciação social das sociedades modernas possibilita a construção de várias hipóteses sobre a complexidade da experiência religiosa. Como as religiões constroem um discurso que normatiza e exerce pressão simbólica desigual sobre homens e mulheres que estão submetidos à sua mediação, o gênero também passa a ser um mediador para a análise das formas pelas quais a pessoa torna-se uma religiosa.

quarta-feira, 9 de junho de 2010

CRÍTICA DO PECADO APRESENTADO NO FILME “EM NOME DE DEUS”

O pecado apresentado no filme “Em nome de Deus“ demonstra toda uma influência que foi trazida pelos “Pais da igreja”; como uma cultura mantém enraizada esses conceitos literalmente de bem e mal como origem de pecado e como pode ser traduzido pelo comportamento humano um julgamento de verdade sobre o assunto.

Assim visto como uma má influência na sociedade irlandesa por volta dos anos 60, à mulher é representada por três características que maculam os lares e as famílias da comunidade: a mãe solteira; a vítima de estupro e a beleza de uma mulher que desperta interesse nos homens, sendo analisados como pecados, independentes dos motivos que levaram a consumação ou não dos fatos. Observado todo o domínio patriarcal que mantém seus interesses apoiados pela Igreja e pelo Estado, excluindo e inferiorizando o sexo feminino, sendo apontadas como as responsáveis pelos pecados dos homens, transgredindo a lei divina, na medida em que a alma foi criada por Deus para reger o corpo e o homem, fazendo mau uso do livre-arbítrio, elas invertem essa ralação, subordinando a alma ao corpo, caindo assim na concupiscência e na ignorância.

Já no convento, aonde essas três mulheres são confinadas, é criado um tipo de penitência para pagarem por seus supostos pecados, através de trabalhos forçados e sob rígida doutrina das irmãs da Misericórdia em nome da Igreja Católica. O interessante é que lá também se encontrava mulheres, que por serem portadoras de deficiência mental ou alguma forma de debilidade, também eram consideradas pecadoras, com isso minimizavam a intervenção da graça, quando não chegavam a negá-la totalmente, esquecendo que a graça precede todos os esforços de salvação, segundo Agostinho.

Desde o triunfo do cristianismo no Império Romano, a cultura patriarcal judaico-cristã modelou os papéis sociais de homens e mulheres, santificando a opressão masculina e demonizando a feminina. A luta pela liberdade de uma tradição machista que as mulheres tiveram, deixam exemplos de reflexão sobre o pecado, embora permanecesse visceralmente impregnado de uma concepção nitidamente dualista que contrapunha o homem a Deus, o mal ao bem, as trevas à luz. È importante reconhecer e superar os dogmas implantados na sociedade ao longo dos anos, lembrando que o fato social da época tinha todo um interesse político de poder, não cabendo mais atualizá-los para um período contemporâneo, e que acima de qualquer interesse está o interesse das relações humanas e da construção de uma sociedade firmada no pilares da igualdade e capacidade dos valores éticos.

sexta-feira, 23 de abril de 2010

INTRODUÇÃO DO INDIVÍDUO NA SOCIEDADE: UM ESTUDO DE ERICK FROMM E DURKHEIM

Na ascendência de sua vivência, o indivíduo se viu como um estranho no mundo; sentiu-se solitário e amedrontado. Justificando-se, então, a abordagem de uma reflexão dos papéis nas sociedades contemporâneas sobre o seu presente e futuro próximo, uma vez que o habitat humano está em constante desgaste e revitalização, isso porque as sociedades são sustentadas por economias capitalistas, estruturadas sob a capa do controle dos meios de produção que tendem a superar o poder político ao invés de apoiar suas atividades.
No estudo realizado por Eric Fromm, ele apresenta conhecimentos para avaliar as necessidades psíquicas fundamentais do ser humano, isto é, aquelas transcendentes às modificações culturais e aos vários momentos da civilização. Então esse conhecimento permitirá também um julgamento integral das organizações sociais. Com isso, Fromm, justifica uma crítica moral e psicológica, apropriado para diagnosticar o valor de uma dada sociedade, sociedade que é útil na medida em que atende essas mesmas necessidades. Contudo, ele faz uma análise filosófica da “situação humana” de suas contradições existenciais e essenciais, separando de forma conclusiva, elementos básicos ou independentes da psique. Essas necessidades essenciais do homem, como ele as idealiza, em Psicanálise da Sociedade Contemporânea (cap. III do livro), medem o bem-estar do indivíduo, que para ele é o alicerce da construção de sua crítica sociológica.
Para existir progresso de vida entre os componentes das sociedades modernas é imprescindível saber lidar com a sustentabilidade modificável da natureza, sendo analisada por Eric Fromm, sob a forma de “Caráter Social”, que é o produto da influência das condições socioeconômicas sobre os impulsos humanos, obra importante na dependência da evolução dos vários níveis da sociedade e no conteúdo de sua composição.
“Entendendo o caráter social como estrutura do caráter compartilhada pela maioria dos indivíduos da mesma cultura, que é diferente em cada um dos indivíduos, chega-se a conclusão que o conceito de caráter social é uma função da realidade e não é estatístico, só podendo ser entendida pela sua referência à função social” (p. 79, 1984).

De acordo com Fromm, não há sociedade em geral, mas apenas construções igualitárias particulares que trabalham com costumes diferentes e examináveis, sendo que esta sociedade só existirá se funcionar dentro de um traço geral e de sua estrutura particular.
Para entender um pouco do que comenta Eric Fromm sobre a “função Social”, pode-se fazer uma analogia a definição de Durkheim quando ele trás um sentido que se aproxima do conceito de “função social” para “papel social”, sendo um conjunto de normas, direitos, deveres e expectativas que envolvem uma pessoa no desempenho de uma função junto a um grupo ou dentro de uma instituição.
Só se atinge o método social, se este partir do conhecimento da realidade do homem tanto na sua característica psíquica como fisiológica para que se aprenda sobre a influência mútua entre natureza do homem e a natureza das condições exteriores sob quais ele vive, e que ele terá de dominar para que possa sobreviver.
Para Eric Fromm, o caráter social se dá a partir da inclusão do indivíduo com o mundo que, no caminho de sua existência, ocorre por meio do processo de adquirir e assimilar coisas, na relação com as demais pessoas e consigo mesmo, o que significa que é social. A função do caráter social é moldar os indivíduos no sentido de agir na direção exigida pela sociedade. O caráter social produz o desejo de agir no sentido de que a sociedade exija e produza no indivíduo a satisfação de atuar de acordo com as exigências da cultura e assim realiza uma mediação entre o modo de produção e as idéias dominantes em uma determinada sociedade.
O moderno sistema social e econômico baseia-se nos princípios da concorrência e do êxito. As ideologias louvam-lhe o valor, e por essas e outras circunstâncias o anseio de prestígio e competição está firmemente implantado no ser humano que vive na cultura ocidental. Mesmo que não houvesse diferenças nos respectivos papéis sociais, essas ansiedades existiriam nos indivíduos devido aos fatos sociais.
Definido e concretizado dentro da sociologia de Émile Durkheim, que parte do conceito que o homem seria apenas um animal selvagem que só se tornou indivíduo porque se tornou sociável, ou seja, foi capaz de aprender hábitos e costumes característicos de seu grupo social para poder conviver no meio deste, interpreta-se que, fora da sociedade o indivíduo não existe, ele se torna individualista. Durkheim acreditava que as sociedades têm prioridade lógica sobre os indivíduos na qual o definiu como “Fato Social”, sendo distinguidas três características na qual os conceituou como: “Coerção Social”, ou seja, a força que os fatos exercem sobre os indivíduos, levando-os a conformar-se às regras da sociedade independente de sua vontade ou escolha, havendo sanções quando se comete uma infração, podendo ser de forma legal, prescrita em forma de leis ou de forma espontânea, que apesar de não ter penalidade prevista em lei o grupo pode reagir penalizando o agressor da sociedade à qual o indivíduo pertence.
A segunda característica é a “Exterioridade”, são aqueles “fatos sociais” que existem e atuam sobre os indivíduos independentemente de sua vontade ou de sua adesão, ou seja, são exteriores ao indivíduo. As regras sociais, os costumes, as leis, já existem antes do nascimento das pessoas.
A terceira característica apontada por Durkheim é a “Generalidade”. É social todo fato que é geral, que se repete em todos os indivíduos, ou pelo menos, na maioria deles, manifestando uma natureza coletiva ou estado comum ao grupo, como as formas de habitação, de comunicação, os sentimentos e a moral. Considera um fato social como normal quando se encontra generalidade pela sociedade ou quando desempenha alguma função importante para sua adaptação ou sua evolução, tomando como exemplo o crime, por ser encontrado em toda e qualquer sociedade.
“Um fato social não pode, ser acoimado de normal para uma espécie social determinada senão em relação com uma fase, igualmente determinada, de seu desenvolvimento”. (Da divisão do trabalho social, p. 52, 1973).

Para Durkheim, a consciência coletiva seria então formada durante a socialização e consistiria em por tudo aquilo que habita nessas mentes e que serve para orientar como se deve ser, sentir e se comportar. É justamente a educação um dos exemplos para mostrar que toda sociedade tem de educar seus indivíduos fazendo com que aprendam suas regras sociais, desta maneira é a sociedade, como coletividade que controla as ações individuais.
A solução estaria em seguir o exemplo de um organismo biológico, onde cada órgão tem uma função e depende dos outros para sobreviver, se cada membro da sociedade exercer uma função na divisão do trabalho, ele será obrigado através de um sistema de direitos e deveres, e também sentirá a necessidade de se manter coeso e solidário aos outros.
“Se há um fato cujo caráter patológico parece incontestável, é o crime” (As regras do método sociológico, p.52, 1963).

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Resumo Crítico do texto "O DILEMA PARA UM RELACIONAMENTO COM DEUS" do Prof e Psicologo Robson Souza

Robson Souza é Psicólogo, formado em Ciências Sociais e Teologia, Mestrado em Teologia em Educação Comunitária pela IEPG/EST, Professor de Psicologia do Centro Universitário da Bahia - FIB e da Faculdade Batista Brasileira – FBB , em sua publicação, aborda um tema sobre a maneira com que o homem, limitado e corruptível, pode manter um relacionamento com um Deus que se apresenta de forma infinita, sem limites e sem medidas formais aparentemente, porém ao realizar uma pesquisa entre jovens batistas, foi verificado que as características de Deus são atribuídas às características de seus pais e independente de ser uma mãe carinhosa ou um pai castrador, metade deles tem um bom relacionamento e uma boa auto-estima.
Ao analisar um pensamento de Carl Gustav Jung, que foi um psiquiatra suíço e fundador da psicologia analítica, vejo como foi bem colocado pelo professor Robson, a sua definição derivada de suas pesquisas de como é importante esse relacionamento de forma autêntica:

“É a função psíquica que permite a geração de um símbolo entre conteúdos inconscientes e conscientes, pela confrontação de opostos. É essa função que permite que os conteúdos do inconsciente possam vir à consciência na forma de símbolos e fantasias” . C. G. Jung

É esse relacionamento de Deus, de forma transcendente com o homem, que permite a criação de uma materialização de uma imagem do inconsciente, transformando-as em realidades simbólicas, concordando com o professor Robson, vejo que realmente “a idéia de Deus nos revela mais sobre nós do que do próprio Deus”.
Desta mesma maneira prossigo analisando suas colocações a respeito do mau relacionamento com Deus dos jovens que não apresentaram um bom relacionamento familiar, embora eu tenha utilizado essa frase para concordar com o professor, nesta contraditoriedade, há algo a ser aprendido em todas as possibilidades de escolha. Não é necessário vivê-las uma a uma. Há experiências que não precisam ser vividas para se extrair lições importantes, nem sempre o mau relacionamento com um, implique na mesma condição com o Outro (coloco Outro substituindo o nome “Deus” devido à dialética hegeliana citada pelo Mestre e Professor Robson: Em si e fora de si. Nós projetamos em Deus todas as nossas características contraditórias). A percepção do espiritual e a consciência da imortalidade da alma exigem algo mais complexo para a vida e para o funcionamento do Universo. O ser humano tem se valido de escolhas entre duas opções, fruto da unilateralidade da consciência, para decidir seu destino. Suas escolhas, automaticamente excluem os paradigmas integrantes de opções opostas, por negá-las veementemente. Ele apenas integra o que considera melhor para si, excluindo o que não percebe ou não aceita na opção oposta.
Valores morais são decisivos na formação do caráter. Saber-se falho, manchado pelo “mau” é algo que não se esquece. Geralmente, as pessoas não têm à disposição ou outros pontos de vista na hora em que mais precisam, sendo incapazes, portanto, de se enxergar e se interpretar de formas alternativas. Assim, a sentença emitida inicialmente por um familiar ou grupo significativo, é assumida em primeira pessoa e o indivíduo se transforma em seu próprio eterno juiz.

“O homem procura um princípio em nome do qual possa desprezar o homem. Inventa outro mundo para poder caluniar e sujar este; de fato só capta o nada e faz desse nada um Deus, uma verdade, chamados a julgar e condenar esta existência.”
Friedrich Nietzsche

Sabiamente o professor expressa sua opinião a respeito da chamada “cura espiritual e psicológica” e comenta sobre as religiões brasileiras que atribuem os fatores das doenças psicológicas meramente a problemas espirituais. Mostra-nos que quando reconhecemos nossas falhas e aprendemos a encontrar o caminho para a solução, nos achamos dentro do nosso espaço, como diz Freud: “o luto deve ser vivido intensamente, dói muito mesmo, é cruel, mas de nada adianta fugir nem fingir”. Entretanto assim conclui o professor Robson, “o sofrimento psicológico é mais do que uma dor – é dor e mais ressentimentos, a culpa, a resistência e outras associações psicopatológicas, isso me recorda de uma meditação do escritor Paul Tournier, no seu livro Culpa e Graça: “Nada nos deixa tão solitários quanto nossos segredos”.
Na verdade precisamos e necessitamos deste relacionamento fiel e puro com Deus utilizando-se do espírito através de suas revelações pessoais, devemos ser nós mesmos, sem máscara ou persona, neste relacionamento íntimo e individual. O processo relacionado com o desenvolvimento, na formação da representação de Deus, é sumamente complexo e é influenciado pelos múltiplos fenômenos culturais, sociais, familiares, individuais, que vão desde os níveis biológicos mais profundos da experiência humana até as realizações espirituais mais sutis. No Ponto de vista Winnicottiano, no decorrer da vida, segundo Ana Maria Rizzuto, Deus permanece um objeto transicional a serviço da necessidade de equilibração consigo próprio, com os outros e com a própria vida. Isso acontece não porque Deus é Deus, mas porque, como o bichinho de pelúcia, ele ganhou boa parte do seu conteúdo a partir dos objetos primários que a criança “encontrou” em sua vida. A outra parte do conteúdo de Deus provém da capacidade que a criança tem para “criar” um Deus de acordo com as suas necessidades.
Mais uma vez o professor acerta em concluir em seu trabalho de pesquisa, expondo que na verdade que não é Deus o culpado pelos nossos fracassos, é nosso o poder de escolha, possuindo uma auto-regulação efetiva, além de alterar a si próprio para uma relação com Deus é um fator de regulação emocional.