terça-feira, 29 de junho de 2010

ANÁLISE E DISCUSSÃO SOBRE A QUESTÃO DO PECADO - parte I

O medo é à base do dogma religioso, assim como de muitas outras coisas na vida humana. O medo dos seres humanos, individual ou coletivamente, domina muito da nossa vida social, mas é o medo da natureza que dá à origem a religião. Neste sentido, a religião, por ter no terror a sua origem, dignificou certos tipos de medo e fez com que as pessoas não julguem vergonhoso e para isso, utiliza-se do medo causado pelo pecado.

Para o cristão evangélico a questão moral subordina-se à questão da salvação. Tanto os sonhos como a linguagem da religião são formas simbólicas de nos referirmos às experiências vividas. O além é horizonte que os homens constroem para dar sentido e perspectiva às vidas concretamente vividas no seu mundo social. Rubem Alves diz que “O homem é o que ele produz”.

A justificação pela fé, ao contrário, subverte esse esquema. O homem não é um ser subordinado a uma lei. O homem é um ser perante Deus, e Deus é essencialmente graça e liberdade. Um dos exemplos que cito pode ser comentado sobre as narrativas de Moises quando se referiu a um grupo de anjos que, segundo a tradição hebraica e, mais apropriadamente, a tradição rabínica, os quais, tendo recebido permissão do Criador para descerem a terra, teriam feito uso de todas as faculdades mentais e motoras, típicas do ser humano, teriam inflamado no desejo sexual ao contemplarem a formosura das mulheres que habitavam na terra, fruto do crescimento demográfico da época, já que as enfermidades e a morte, causas diretas da entrada do pecado no mundo pela desobediência do primeiro casal só se tornaram evidencias fortes com o prolongar do tempo.
Esse desejo desenfreado pode ser ate mesmo explicado em função da não convivência anterior dessas criaturas com a humanidade, onde os laços sociais e religiosos ainda eram fortes e o respeito fazia parte do regime patriarcal, ainda que o pecado fosse uma realidade, sobretudo na vida dos descendentes de Caim que já experimentavam ha mais tempo, o privilegio de viver sobre a face da terra.

Analisando o texto bíblico, mas precisamente, vemos que o domínio de uma cultura patriarcal desenvolveu toda uma historia que contribuiu para uma estrutura hierárquica do gênero, fazendo com que rompesse a barreira de uma divisão política e geográfica sendo utilizada também na esfera ocidental. A relação das religiões com a crescente diferenciação social das sociedades modernas possibilita a construção de várias hipóteses sobre a complexidade da experiência religiosa. Como as religiões constroem um discurso que normatiza e exerce pressão simbólica desigual sobre homens e mulheres que estão submetidos à sua mediação, o gênero também passa a ser um mediador para a análise das formas pelas quais a pessoa torna-se uma religiosa.

quarta-feira, 9 de junho de 2010

CRÍTICA DO PECADO APRESENTADO NO FILME “EM NOME DE DEUS”

O pecado apresentado no filme “Em nome de Deus“ demonstra toda uma influência que foi trazida pelos “Pais da igreja”; como uma cultura mantém enraizada esses conceitos literalmente de bem e mal como origem de pecado e como pode ser traduzido pelo comportamento humano um julgamento de verdade sobre o assunto.

Assim visto como uma má influência na sociedade irlandesa por volta dos anos 60, à mulher é representada por três características que maculam os lares e as famílias da comunidade: a mãe solteira; a vítima de estupro e a beleza de uma mulher que desperta interesse nos homens, sendo analisados como pecados, independentes dos motivos que levaram a consumação ou não dos fatos. Observado todo o domínio patriarcal que mantém seus interesses apoiados pela Igreja e pelo Estado, excluindo e inferiorizando o sexo feminino, sendo apontadas como as responsáveis pelos pecados dos homens, transgredindo a lei divina, na medida em que a alma foi criada por Deus para reger o corpo e o homem, fazendo mau uso do livre-arbítrio, elas invertem essa ralação, subordinando a alma ao corpo, caindo assim na concupiscência e na ignorância.

Já no convento, aonde essas três mulheres são confinadas, é criado um tipo de penitência para pagarem por seus supostos pecados, através de trabalhos forçados e sob rígida doutrina das irmãs da Misericórdia em nome da Igreja Católica. O interessante é que lá também se encontrava mulheres, que por serem portadoras de deficiência mental ou alguma forma de debilidade, também eram consideradas pecadoras, com isso minimizavam a intervenção da graça, quando não chegavam a negá-la totalmente, esquecendo que a graça precede todos os esforços de salvação, segundo Agostinho.

Desde o triunfo do cristianismo no Império Romano, a cultura patriarcal judaico-cristã modelou os papéis sociais de homens e mulheres, santificando a opressão masculina e demonizando a feminina. A luta pela liberdade de uma tradição machista que as mulheres tiveram, deixam exemplos de reflexão sobre o pecado, embora permanecesse visceralmente impregnado de uma concepção nitidamente dualista que contrapunha o homem a Deus, o mal ao bem, as trevas à luz. È importante reconhecer e superar os dogmas implantados na sociedade ao longo dos anos, lembrando que o fato social da época tinha todo um interesse político de poder, não cabendo mais atualizá-los para um período contemporâneo, e que acima de qualquer interesse está o interesse das relações humanas e da construção de uma sociedade firmada no pilares da igualdade e capacidade dos valores éticos.