domingo, 16 de agosto de 2009

A PRÁTICA DA TEOLOGIA EM UMA PERSPECTIVA FEMINISTA

A exposição do assunto foi construída a partir de uma análise apresentados nos textos de Wanda Deifelt e Karen Bergesch, que oferece duas possíveis abordagens para o caso de violência doméstica dentro da prática da teologia em uma perspectiva feminista, sendo uma, o trabalho de descentralização das idéias já estabelecidas dentro de um método de trabalho. A outra seria utilizar os métodos através da aplicação para os dias atuais. Nota-se que é imprescindível trazer ambos os métodos para a prática, analisando toda uma realidade de violência domiciliar que transcende o âmbito religioso, cultural, econômico e social, não havendo obstáculos nem empecilhos para realizar as agressões as suas vítimas, podendo ocorrer em qualquer esfera, ferindo toda uma sociedade e não só a um determinado gênero.
A construção que se tem de poder, referente às práticas sociais do homem na cultura, nos mostra que à violência doméstica já não é observado com anomalia. Utilizando este argumento, o movimento feminista vem trazendo a ostensividade, esses problemas que ocorrem em todos os países, apesar de serem classificados como “experiência cotidiana”, embora as pesquisas mostrem que o risco de agressão sofrida pelas mulheres dentro de um lar é nove vezes maior do que fora do ambiente doméstico.
Apenas reconhecer que somos uma sociedade violenta ainda não é o suficiente, é necessário que haja a denúncia. As justificativas que são utilizadas como mecanismo de amparo para o conflito, ainda levam culturalmente prevalência do sexo opressor, aplicando respaldos para tal prática de violência ao ponto de inverter os papeis e seus valores chegando a colocar a vítima de agressão como culpada pelos fatos que ocorrem, formalizando frases que seriam cômicas se não fossem trágicas pela bela ironia do sistema, tais como: “Eu não sei por que bato, mas ela sabe por que apanha”; “Ele bate porque ela provoca”; “Ele não sabia o que estava fazendo porque estava bêbado”; “Você tem que pensar nas crianças”; “Ele não bateria em mim se não me amasse”; “Cada um carrega sua cruz. Este marido é a sua”.
A subordinação da mulher, colocada como ser inferior, segundo a teoria dos dualismos hierarquizados é a raiz da violência de gênero, na medida em que se buscam desconstruir os papéis estabelecidos, encontrando resistência dos que querem manter o “status”. Esta desconstrução de papéis tem sido tentada, sem grande sucesso ainda, por homens e mulheres que acreditam na igualdade de gênero.
Chama a atenção o fato de que “masculinidade” e “feminilidade”, muitas vezes nada tem a ver com o fato de ser um homem ou uma mulher. O mais importante e questão central é o comportamento social.
Analisando a violência contra a mulher em uma abordagem dentro de uma perspectiva foucaultiana é destacado a relevância do corpo como sustentáculos das forças de poder e de saber, que se articulam estrategicamente na história da sociedade. A corporeidade ocupa uma posição central na obra de Foucault, ressaltando-a enquanto realidade e como ponto de apoio de complexas correlações de forças, sobre a qual incidem inúmeras conformações discursivas produtoras de "verdades", que tanto podem reafirmar como recriar o sentido do corpo presente ou a sensibilidade individual ou coletiva nele imanente.
Os dispositivos de sexualidade não são apenas do tipo disciplinar, atuando pelo controle do tempo, do espaço, da atividade e pela utilização de instrumentos como a vigilância e o exame. Eles também se realizam pela regulação das populações, por um bio-poder que age sobre a espécie humana. Questões como o nascimento, mortalidade, nível de vida, duração da vida estão ligados tanto a um poder disciplinar quanto a um tipo de poder que tem como objetivo gerir a vida do corpo social.
O poder não atua no exterior, mas trabalha o corpo dos homens, manipula seus elementos, produz seu comportamento, enfim, fabrica o tipo de homem necessário ao funcionamento e manutenção da sociedade industrial capitalista. O corpo só se torna força de trabalho quando manipulado pelo sistema político de dominação, característico do poder disciplinar e do bio-poder. Algumas pinceladas de história já mostram que o ser humano se tem constituído numa duplicidade que só consegue se perceber em posições distintas: corpo e alma; razão e emoção; senso e dissenso; feminino e masculino. A sociedade ocidental tem, também, construída os sentidos de seus corpos sobre os conceitos que a regem: produção, economia, mercado, consumo. Por isso, institui um corpo sexual e produtivo (masculino), reprodução do modelo capitalista, do valor mercantil, limitando em demasia o espaço sedutor (feminino).
Não é possível, em pleno século 21, ser tratada como a costela de Adão. Não se quer uniformidade. Mas que sejamos respeitados todos de acordo com o que nos é peculiar. Falta isso ser posto na mesa como a lei (Lei Maria da Penha) foi posta na prateleira. É preciso afetividade social.