sexta-feira, 23 de abril de 2010

INTRODUÇÃO DO INDIVÍDUO NA SOCIEDADE: UM ESTUDO DE ERICK FROMM E DURKHEIM

Na ascendência de sua vivência, o indivíduo se viu como um estranho no mundo; sentiu-se solitário e amedrontado. Justificando-se, então, a abordagem de uma reflexão dos papéis nas sociedades contemporâneas sobre o seu presente e futuro próximo, uma vez que o habitat humano está em constante desgaste e revitalização, isso porque as sociedades são sustentadas por economias capitalistas, estruturadas sob a capa do controle dos meios de produção que tendem a superar o poder político ao invés de apoiar suas atividades.
No estudo realizado por Eric Fromm, ele apresenta conhecimentos para avaliar as necessidades psíquicas fundamentais do ser humano, isto é, aquelas transcendentes às modificações culturais e aos vários momentos da civilização. Então esse conhecimento permitirá também um julgamento integral das organizações sociais. Com isso, Fromm, justifica uma crítica moral e psicológica, apropriado para diagnosticar o valor de uma dada sociedade, sociedade que é útil na medida em que atende essas mesmas necessidades. Contudo, ele faz uma análise filosófica da “situação humana” de suas contradições existenciais e essenciais, separando de forma conclusiva, elementos básicos ou independentes da psique. Essas necessidades essenciais do homem, como ele as idealiza, em Psicanálise da Sociedade Contemporânea (cap. III do livro), medem o bem-estar do indivíduo, que para ele é o alicerce da construção de sua crítica sociológica.
Para existir progresso de vida entre os componentes das sociedades modernas é imprescindível saber lidar com a sustentabilidade modificável da natureza, sendo analisada por Eric Fromm, sob a forma de “Caráter Social”, que é o produto da influência das condições socioeconômicas sobre os impulsos humanos, obra importante na dependência da evolução dos vários níveis da sociedade e no conteúdo de sua composição.
“Entendendo o caráter social como estrutura do caráter compartilhada pela maioria dos indivíduos da mesma cultura, que é diferente em cada um dos indivíduos, chega-se a conclusão que o conceito de caráter social é uma função da realidade e não é estatístico, só podendo ser entendida pela sua referência à função social” (p. 79, 1984).

De acordo com Fromm, não há sociedade em geral, mas apenas construções igualitárias particulares que trabalham com costumes diferentes e examináveis, sendo que esta sociedade só existirá se funcionar dentro de um traço geral e de sua estrutura particular.
Para entender um pouco do que comenta Eric Fromm sobre a “função Social”, pode-se fazer uma analogia a definição de Durkheim quando ele trás um sentido que se aproxima do conceito de “função social” para “papel social”, sendo um conjunto de normas, direitos, deveres e expectativas que envolvem uma pessoa no desempenho de uma função junto a um grupo ou dentro de uma instituição.
Só se atinge o método social, se este partir do conhecimento da realidade do homem tanto na sua característica psíquica como fisiológica para que se aprenda sobre a influência mútua entre natureza do homem e a natureza das condições exteriores sob quais ele vive, e que ele terá de dominar para que possa sobreviver.
Para Eric Fromm, o caráter social se dá a partir da inclusão do indivíduo com o mundo que, no caminho de sua existência, ocorre por meio do processo de adquirir e assimilar coisas, na relação com as demais pessoas e consigo mesmo, o que significa que é social. A função do caráter social é moldar os indivíduos no sentido de agir na direção exigida pela sociedade. O caráter social produz o desejo de agir no sentido de que a sociedade exija e produza no indivíduo a satisfação de atuar de acordo com as exigências da cultura e assim realiza uma mediação entre o modo de produção e as idéias dominantes em uma determinada sociedade.
O moderno sistema social e econômico baseia-se nos princípios da concorrência e do êxito. As ideologias louvam-lhe o valor, e por essas e outras circunstâncias o anseio de prestígio e competição está firmemente implantado no ser humano que vive na cultura ocidental. Mesmo que não houvesse diferenças nos respectivos papéis sociais, essas ansiedades existiriam nos indivíduos devido aos fatos sociais.
Definido e concretizado dentro da sociologia de Émile Durkheim, que parte do conceito que o homem seria apenas um animal selvagem que só se tornou indivíduo porque se tornou sociável, ou seja, foi capaz de aprender hábitos e costumes característicos de seu grupo social para poder conviver no meio deste, interpreta-se que, fora da sociedade o indivíduo não existe, ele se torna individualista. Durkheim acreditava que as sociedades têm prioridade lógica sobre os indivíduos na qual o definiu como “Fato Social”, sendo distinguidas três características na qual os conceituou como: “Coerção Social”, ou seja, a força que os fatos exercem sobre os indivíduos, levando-os a conformar-se às regras da sociedade independente de sua vontade ou escolha, havendo sanções quando se comete uma infração, podendo ser de forma legal, prescrita em forma de leis ou de forma espontânea, que apesar de não ter penalidade prevista em lei o grupo pode reagir penalizando o agressor da sociedade à qual o indivíduo pertence.
A segunda característica é a “Exterioridade”, são aqueles “fatos sociais” que existem e atuam sobre os indivíduos independentemente de sua vontade ou de sua adesão, ou seja, são exteriores ao indivíduo. As regras sociais, os costumes, as leis, já existem antes do nascimento das pessoas.
A terceira característica apontada por Durkheim é a “Generalidade”. É social todo fato que é geral, que se repete em todos os indivíduos, ou pelo menos, na maioria deles, manifestando uma natureza coletiva ou estado comum ao grupo, como as formas de habitação, de comunicação, os sentimentos e a moral. Considera um fato social como normal quando se encontra generalidade pela sociedade ou quando desempenha alguma função importante para sua adaptação ou sua evolução, tomando como exemplo o crime, por ser encontrado em toda e qualquer sociedade.
“Um fato social não pode, ser acoimado de normal para uma espécie social determinada senão em relação com uma fase, igualmente determinada, de seu desenvolvimento”. (Da divisão do trabalho social, p. 52, 1973).

Para Durkheim, a consciência coletiva seria então formada durante a socialização e consistiria em por tudo aquilo que habita nessas mentes e que serve para orientar como se deve ser, sentir e se comportar. É justamente a educação um dos exemplos para mostrar que toda sociedade tem de educar seus indivíduos fazendo com que aprendam suas regras sociais, desta maneira é a sociedade, como coletividade que controla as ações individuais.
A solução estaria em seguir o exemplo de um organismo biológico, onde cada órgão tem uma função e depende dos outros para sobreviver, se cada membro da sociedade exercer uma função na divisão do trabalho, ele será obrigado através de um sistema de direitos e deveres, e também sentirá a necessidade de se manter coeso e solidário aos outros.
“Se há um fato cujo caráter patológico parece incontestável, é o crime” (As regras do método sociológico, p.52, 1963).

Um comentário:

  1. Se se apoiar nestes pressupostos, corre o risco de uma teologia reacionária.

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